domingo, 8 de janeiro de 2017

Primeiro encontro: Relações entre o Peru, a América Latina e o mito inca "Pachamama"




 Primeiro encontro: Relações entre o Peru, a América Latina e o mito inca "Pachamama"



                                                                                                                                            Por Marcela Marinho

Em viagem ao Peru pesquisei e estudei um pouco sobre a América Latina (AL), a América do Sul (AS) e o México (curiosa com a formação dos povos Inca, Maia e Asteca). 
Países da América Latina
Em cada visita aos sites e aos blogs de alguns dos países, compreendi e percebi múltiplas expressões, dinâmicas e histórias. Tentarei descrever um pouco do lido, sinalizar percepções e encantar por meio da história de uma região guerreira, rica e misteriosa, em uma certa medida até mesmo para o latino americano que ainda se descobre e algumas vezes não sente sua própria caminhada como cheia de potencialidades. Minha relação com o Peru parece recente, mas sinto profundamente um estado de pertencimento e é nesse movimento que entre o Peru, a América Latina e a deusa inca Pachamama, para além de algumas impressões minhas sobre essa afinidade, quero iniciar minha narrativa inundada de leituras e vozes.


O Peru é um país da América do Sul, com aproximadamente 30,38 milhões de pessoas. A Capital é Lima e é limitado ao norte pelo Equador e pela Colômbia, a leste pelo Brasil e pela Bolívia e ao sul pelo Chile. 
Localização do Peru (AL)
O território peruano abrigou o Império Inca, considerado o maior Estado da América pré-colombiana. Hoje é uma república presidencialista e é dividida em 25 regiões. A sua geografia exibe planícies áridas na costa do Pacífico, picos nevados dos Andes e à floresta amazônica, é um país de múltiplos microclimas.  Quanto a religião, por influência da igreja Católica vinda com os Espanhóis, tem como religião oficial o catolicismo.
Em busca de olhares que focalizem o imaginário peruano recorro a mitologia. O ocidente é marcado por histórias influenciadas pela mitologia Greco-romana e suas metáforas. Os mitos e suas narrativas buscam explicar fenômenos naturais, sociais, sobre o mundo através da utilização de metáforas. Elas esclarecem sobre lendas de deuses e deusas, seus poderes sobre a terra, mitos relacionados a eles, que são como divindades no universo.
Essas influencias Greco-romana marcam padrões culturais e sociais nas sociedades consideradas ocidentais de forma predominante, consentindo aos mitos e as mitologias latinas, algumas vezes, papel periférico na história do mundo.  
Mitologia Inca
    

Entusiasmada pelos estudos sobre mitos, mitologias e deuses presentes no imaginário da América Latina, histórias, representações e marcas sociais e culturais, a viagem ao Peru fez aflorar em mim um misto de curiosidade, encantamento e fé. Para além da dominância das narrativas e práticas dos povos europeus, sobre o continente latino americano, meus olhares desejavam a AMÉRICA LATINA pelos olhos dos latinos, das crenças andinas, das resistências originadas das mais diversas ordens.

       
 A formação da América latina, não desejando grandes aprofundamentos, é formada pelo México, pela América Central e pela América do Sul, seus idiomas e elementos históricos e culturais estabelecem expressões de “latinidade”. Seu processo de “colonização” foi promovido pelos europeus (podemos entender aqui que a história é contada pelos europeus e muitas vezes anula a oralidade, os saberes e os fazeres, além da presença dos povos indígenas) com destaque para os espanhóis, portugueses, britânicos, holandeses e franceses, mas é na presença hispânica e portuguesa que essa região ganha marcas profundas.

O processo de independência dessa influência, nos múltiplos países que compõem a América Latina é fortemente balizada por processos políticos e militares. O rompimento com as autoridades espanholas e portuguesas foram lentas e recentes, quando comparadas com o processo de formação dos Estados Nação da Europa. As marcas deixadas são múltiplas, mas a rivalidade entre os países da América Latina me chamou atenção, como no Peru quando percebi atritos, ressentimentos e brigas entre o país e o Chile (inclusive sinalizações implícitas e explícitas dos discursos de alguns peruanos).
Pachacamac e Pachamama
Mas retornando para a ideia central deste texto - descrever um pouco do lido, sinalizar percepções e encantar por meio da história de uma região guerreira, rica e misteriosa - retomo o mito de Pachamama e Pachacamac presente nas mitologias latinas.Mas antes, escutamos sempre, pensando na segurança de dados e informações, que a Mitologia e Filosofia se origina na Grécia, mas será que surgem por si só ou, como me questiono, assim como muitos, essa sabedoria não poderia se originar ou ter influências de civilizações que antecederam a própria civilização grega.  E é nesse sentido que para além das narrativas tradicionais trago um pouco da mitologia com enfoque na América Latina.
O ser humano sempre buscou interpretar e compreender os por quês das coisas do mundo e dessa tentativa, bem grosseiramente esclarecendo, surgem as racionalidades.
Mito vem do grego mythos derivado de dois verbos mytheyo (contar, narrar) e do verbo mytheo (conversar, designar, nomear), que assim compreendemos como uma narrativa, ou seja, pelo qual podemos compreender algo ocorrido em um tempo, mediante a intervenção de seres sobrenaturais. Existem três modos principais de como o mito se forma na terra, como explica a origem do mundo e de tudo o que nele existe: O primeiro é encontrando um pai e uma mãe das coisas e dos seres, ou seja, as forças divinas pessoais derivam da relação entre dois deuses gerando os demais deuses; O segundo é encontrando uma aliança ou uma rivalidade entre os deuses, por exemplo, as guerras eram explicadas por meio de desavenças entre os deuses; O terceiro é encontrando recompensas ou castigos que  os  deuses  imprimem em quem desobedece ou não os deuses, como conta Cotta.
Caixa de Pandora
O mito conta uma história sagrada, relata um acontecimento, é um modelo para explicar as coisas do mundo, portanto, é nesse sentido que compreendo a existência de uma uniformidade da história e dos relatos; aqui buscamos mitos e mitologias latinas, em especial, o mito de Pachamama e Pachacamac.
Os Incas se consolidaram como maior estado pré-hispânico das Américas. Abarcou os territórios andinos que são atualmente o sul da Colômbia, o Equador, o Peru, a Bolívia, a região central do Chile e noroeste da Argentina. A capital do Império foi a cidade de Cusco (Qosqo, palavra Quechua que significa umbigo do mundo), como o centro de desenvolvimento da etnia Inca desde as suas origens e sua fundação por Manco Capac, primeiro governador de Cusco.     Desse modo, o mito de Pachamama e Pachacamac, de origem Inca, está presente no imaginário coletivo andino, na cultura, na arte. Ele conta que Pachacamac, deus do céu, se uniu a Pachamama e dessa união nasceram os gêmeos Wilka, um macho e uma fêmia. O blog “compartiendo luz con sol” explica que assim como outros mitos andinos o deus pai morre ou desaparece no mar ou, ainda, se apaixona e vai para uma das ilhas do litoral, e conta...
                 Pachamama se tornou viúva e sozinha cuidou dos filhos na escuridão e solidão da noite. À distância, eles viram uma luz em um pico, uma montanha distante e foram em direção as chamas fortes. Eles deixaram a cidade de Kappur, passaram por cidades como Gasgachin, onde temíveis monstros se escondiam. Passando pela lagoa Rihuacocha onde beberam de suas águas para seguir em frente.
Finalmente chegaram a uma caverna conhecida pelo nome de Waconpahuin na colina de Reponge, habitada por um homem seminu chamado Wakon. No fogo havia uma panela de pedra com algumas batatas e o homem pediu as crianças que fossem a uma fonte para pegar água, mas o vaso (cántaro) que foi dado as crianças estava rachado e por essa causa, as crianças demoraram a regressar a caverna.
Os gêmeos e Wakon
Durante a ausência dos gêmeos, Wakon tentou seduzir Pachamama e, como não obteve êxito, a matou e comeu parte do seu corpo, guardando os restos em uma panela. Quando as crianças voltaram, perguntaram por sua mãe e Wakon lhes disse que logo retornaria, mas os dias passaram sem que ela retornasse.
Huaychau, ave que anuncia o nascer do sol, se compadeceu com a situação dos filhos de Pachamama e disse-lhes o destino de sua mãe e do perigo que passavam se continuassem com Wakon. Assim, os aconselhou a ir até a caverna de Yagamachay, onde Wakon estava dormindo e aproveitando do seu sono, deveriam amarrar o cabelo dele em uma grande pedra e rapidamente escapar, assim cumpriram os gêmeos.
Em sua fuga, os irmãos encontraram com Añas, a raposa que lhes perguntou para onde corriam e ao inteirar-se de seus problemas os escondeu em sua toca. Enquanto isso despertou Wakon e depois de desatar-se da pedra, partiu em busca dos gêmeos.
Ao longo do caminho encontrou com um puma, um condor e uma serpente ou amaru, mas foram incapazes de dizer onde estavam as crianças. Em seguida ele cruzou com Anãs, a raposa, que astutamente aconselhou-o a subir uma colina íngreme e de lá cantar imitando a voz da mãe para que os pequenos fossem para o morro.
Apressado correu Wakon, sem dar conta de que Anãs havia preparado uma armadilha, e ao pisar na pedra caiu no abismo. Sua morte causou um violento terremoto.
Os gêmeos permaneceram com Anãs, mas cansados de se alimentar com seu sangue, lhe pediram para ir ao campo colher umas batatas. Ali encontraram uma Oca (Oxalis tuberosa) em forma de boneca e ao brincar com ela se partiu em pedaços. Choraram os meninos pela perda do brinquedo e por fim caíram no sono.
Ao despertar a menina contou seu sonho para seu irmão e como ela lançava seu chapéu ao ar e ali ficava, e o mesmo acontecia com sua roupa. Enquanto as crianças se perguntavam o significado, viram descer do céu uma larga corda. Surpreendidos, conversaram entre si e decidiram subir pela corda e ver para onde os conduziriam. Subiram e subiram e chegaram ao céu onde encontraram Pachacamac que havia compadecido por seus infortúnios.
Reunidos com seu pai, o menino foi transformado no Sol e a menina na lua. Quanto a Pachamama, ela permaneceu para sempre na forma de uma imponente montanha chamada até hoje em dia de “A Viúva”.

É no encontro entre “Marcela” e as múltiplas expressões dessa narrativa inca, (descrevendo um pouco do lido, sinalizando percepções implícitas e explicitas e buscando o encantamento por meio da história de uma região guerreira, rica e misteriosa) que a hospitalidade ocorreu (Aqui recorro a abertura ao outro, o outro que é diferente de mim).


Assim como, no cenário de múltiplas percepções, a riqueza e a potência desse povo que vibra, se movimenta e acredita possibilitou um reencontro! E dele a compreensão que a totalidade, o sagrado, a fertilidade e a cura estão dentro de cada um de nós, como também nas águas da chuva, no sol que aquece, na lua que acalenta as madrugadas, no puma que protege e até mesmo na serpente que assusta, mas é com  o condor que observa plácido a paisagem e aprende com a beleza de tudo que vê (tudo é belo), como a montanha, que chegamos a Pachamama.


 Pela cura, pela totalidade, pelo sagrado.

https://compartiendoluzconsol.wordpress.com/author/solitalo/

3 comentários:

  1. Ricas informações! Encantadora forma de olhar e relatar a inportância de Pachamama e Pachacamac para o latinos! Grata por compartilhar conosco suas experiências! 🌸🌸🌸

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  2. Obrigada pelo carinho e pelo incentivo! Encantada pelo apoio e pela amorosidade!

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  3. Muito bom, Marcela!!! Adorei a abordagem
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