Primeiro encontro: Relações entre o Peru, a América Latina e o mito inca "Pachamama"
Em
viagem ao Peru pesquisei e estudei um pouco sobre a América Latina (AL), a América
do Sul (AS) e o México (curiosa com a formação dos povos Inca, Maia e Asteca).
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| Países da América Latina |
Em
cada visita aos sites e aos blogs de alguns dos países, compreendi e percebi
múltiplas expressões, dinâmicas e histórias. Tentarei descrever um pouco do
lido, sinalizar percepções e encantar por meio da história de uma região
guerreira, rica e misteriosa, em uma certa medida até mesmo para o latino
americano que ainda se descobre e algumas vezes não sente sua própria caminhada
como cheia de potencialidades. Minha relação com o Peru parece recente, mas
sinto profundamente um estado de pertencimento e é nesse movimento que entre o
Peru, a América Latina e a deusa inca Pachamama, para além de algumas
impressões minhas sobre essa afinidade, quero iniciar minha narrativa inundada
de leituras e vozes.
O Peru
é um país da América do Sul, com aproximadamente 30,38 milhões de pessoas. A
Capital é Lima e é limitado ao norte pelo Equador e pela Colômbia, a leste pelo
Brasil e pela Bolívia e ao sul pelo Chile.
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| Localização do Peru (AL) |
O território peruano abrigou o
Império Inca, considerado o maior Estado da América pré-colombiana. Hoje é uma
república presidencialista e é dividida em 25 regiões. A sua geografia exibe planícies
áridas na costa do Pacífico, picos nevados dos Andes e à floresta amazônica, é
um país de múltiplos microclimas. Quanto
a religião, por influência da igreja Católica vinda com os Espanhóis, tem como
religião oficial o catolicismo.
Em
busca de olhares que focalizem o imaginário peruano recorro a mitologia. O
ocidente é marcado por histórias influenciadas pela mitologia Greco-romana e
suas metáforas. Os mitos e suas narrativas buscam explicar fenômenos naturais,
sociais, sobre o mundo através da utilização de metáforas. Elas esclarecem sobre
lendas de deuses e deusas, seus poderes sobre a terra, mitos relacionados a eles,
que são como divindades no universo.
Essas
influencias Greco-romana marcam padrões culturais e sociais nas sociedades
consideradas ocidentais de forma predominante, consentindo aos mitos e as mitologias
latinas, algumas vezes, papel periférico na história do mundo.
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| Mitologia Inca |
Entusiasmada
pelos estudos sobre mitos, mitologias e deuses presentes no imaginário da
América Latina, histórias, representações e marcas sociais e culturais, a
viagem ao Peru fez aflorar em mim um misto de curiosidade, encantamento e fé.
Para além da dominância das narrativas e práticas dos povos europeus, sobre o
continente latino americano, meus olhares desejavam a AMÉRICA LATINA pelos
olhos dos latinos, das crenças andinas, das resistências originadas das mais diversas
ordens.
A
formação da América latina, não desejando grandes aprofundamentos, é formada
pelo México, pela América Central e pela América do Sul, seus idiomas e
elementos históricos e culturais estabelecem expressões de “latinidade”. Seu
processo de “colonização” foi promovido pelos europeus (podemos entender aqui
que a história é contada pelos europeus e muitas vezes anula a oralidade, os
saberes e os fazeres, além da presença dos povos indígenas) com destaque para
os espanhóis, portugueses, britânicos, holandeses e franceses, mas é na
presença hispânica e portuguesa que essa região ganha marcas profundas.
O
processo de independência dessa influência, nos múltiplos países que compõem a
América Latina é fortemente balizada por processos políticos e militares. O
rompimento com as autoridades espanholas e portuguesas foram lentas e recentes,
quando comparadas com o processo de formação dos Estados Nação da Europa. As
marcas deixadas são múltiplas, mas a rivalidade entre os países da América
Latina me chamou atenção, como no Peru quando percebi atritos, ressentimentos e
brigas entre o país e o Chile (inclusive sinalizações implícitas e explícitas
dos discursos de alguns peruanos).
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| Pachacamac e Pachamama |
O ser
humano sempre buscou interpretar e compreender os por quês das coisas do mundo
e dessa tentativa, bem grosseiramente esclarecendo, surgem as racionalidades.
Mito
vem do grego mythos derivado de dois verbos mytheyo (contar, narrar) e do verbo
mytheo (conversar, designar, nomear), que assim compreendemos como uma
narrativa, ou seja, pelo qual podemos compreender algo ocorrido em um tempo,
mediante a intervenção de seres sobrenaturais. Existem três modos principais de
como o mito se forma na terra, como explica a origem do mundo e de tudo o que
nele existe: O primeiro é encontrando um pai e uma mãe das coisas e dos seres,
ou seja, as forças divinas pessoais derivam da relação entre dois deuses
gerando os demais deuses; O segundo é encontrando uma aliança ou uma rivalidade
entre os deuses, por exemplo, as guerras eram explicadas por meio de desavenças
entre os deuses; O terceiro é encontrando recompensas ou castigos que os
deuses imprimem em quem desobedece
ou não os deuses, como conta Cotta.
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| Caixa de Pandora |
O mito
conta uma história sagrada, relata um acontecimento, é um modelo para explicar
as coisas do mundo, portanto, é nesse sentido que compreendo a existência de
uma uniformidade da história e dos relatos; aqui buscamos mitos e mitologias
latinas, em especial, o mito de Pachamama
e Pachacamac.
Os
Incas se consolidaram como maior estado pré-hispânico das Américas. Abarcou os
territórios andinos que são atualmente o sul da Colômbia, o Equador, o Peru, a Bolívia,
a região central do Chile e noroeste da Argentina. A capital do Império foi a
cidade de Cusco (Qosqo, palavra Quechua que significa umbigo do mundo), como o
centro de desenvolvimento da etnia Inca desde as suas origens e sua fundação
por Manco Capac, primeiro governador de Cusco.
Desse modo, o mito de Pachamama e Pachacamac, de origem Inca, está presente
no imaginário coletivo andino, na cultura, na arte. Ele conta que Pachacamac, deus do céu, se uniu a Pachamama e dessa união nasceram os
gêmeos Wilka, um macho e uma fêmia. O blog “compartiendo luz con sol” explica
que assim como outros mitos andinos o deus pai morre ou desaparece no mar ou, ainda,
se apaixona e vai para uma das ilhas do litoral, e conta...
Pachamama se tornou viúva e sozinha cuidou dos filhos na
escuridão e solidão da noite. À distância, eles viram uma luz em um pico, uma
montanha distante e foram em direção as chamas fortes. Eles deixaram a cidade
de Kappur, passaram por cidades como Gasgachin, onde temíveis monstros se
escondiam. Passando pela lagoa Rihuacocha onde beberam de suas águas para seguir
em frente.
Finalmente chegaram a uma caverna conhecida pelo nome de
Waconpahuin na colina de Reponge, habitada por um homem seminu chamado Wakon.
No fogo havia uma panela de pedra com algumas batatas e o homem pediu as
crianças que fossem a uma fonte para pegar água, mas o vaso (cántaro) que foi
dado as crianças estava rachado e por essa causa, as crianças demoraram a
regressar a caverna.
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| Os gêmeos e Wakon |
Durante a ausência dos gêmeos, Wakon tentou seduzir Pachamama e,
como não obteve êxito, a matou e comeu parte do seu corpo, guardando os restos
em uma panela. Quando as crianças voltaram, perguntaram por sua mãe e Wakon
lhes disse que logo retornaria, mas os dias passaram sem que ela retornasse.
Huaychau, ave que anuncia o nascer do sol, se compadeceu com a
situação dos filhos de Pachamama e disse-lhes o destino de sua mãe e do perigo
que passavam se continuassem com Wakon. Assim, os aconselhou a ir até a caverna
de Yagamachay, onde Wakon estava dormindo e aproveitando do seu sono, deveriam
amarrar o cabelo dele em uma grande pedra e rapidamente escapar, assim
cumpriram os gêmeos.
Em sua fuga, os irmãos encontraram com Añas, a raposa que lhes
perguntou para onde corriam e ao inteirar-se de seus problemas os escondeu em
sua toca. Enquanto isso despertou Wakon e depois de desatar-se da pedra, partiu
em busca dos gêmeos.
Ao longo do caminho encontrou com um puma, um condor e uma serpente
ou amaru, mas foram incapazes de dizer onde estavam as crianças. Em seguida ele
cruzou com Anãs, a raposa, que astutamente aconselhou-o a subir uma colina
íngreme e de lá cantar imitando a voz da mãe para que os pequenos fossem para o
morro.
Apressado correu Wakon, sem dar conta de que Anãs havia
preparado uma armadilha, e ao pisar na pedra caiu no abismo. Sua morte causou
um violento terremoto.
Os gêmeos permaneceram com Anãs, mas cansados de se alimentar
com seu sangue, lhe pediram para ir ao campo colher umas batatas. Ali
encontraram uma Oca (Oxalis tuberosa)
em forma de boneca e ao brincar com ela se partiu em pedaços. Choraram os
meninos pela perda do brinquedo e por fim caíram no sono.
Ao despertar a menina contou seu sonho para seu irmão e como ela
lançava seu chapéu ao ar e ali ficava, e o mesmo acontecia com sua roupa.
Enquanto as crianças se perguntavam o significado, viram descer do céu uma
larga corda. Surpreendidos, conversaram entre si e decidiram subir pela corda e
ver para onde os conduziriam. Subiram e subiram e chegaram ao céu onde
encontraram Pachacamac que havia compadecido por seus infortúnios.
Reunidos com seu pai, o menino foi transformado no Sol e a
menina na lua. Quanto a Pachamama, ela permaneceu para sempre na forma de uma
imponente montanha chamada até hoje em dia de “A Viúva”.
É no
encontro entre “Marcela” e as múltiplas expressões dessa narrativa inca,
(descrevendo um pouco do lido, sinalizando percepções implícitas e explicitas e
buscando o encantamento por meio da história de uma região guerreira, rica e
misteriosa) que a hospitalidade ocorreu (Aqui recorro a abertura ao outro, o outro que é diferente de mim).
Assim
como, no cenário de múltiplas percepções, a riqueza e a potência desse povo que
vibra, se movimenta e acredita possibilitou um reencontro! E dele a compreensão
que a totalidade, o sagrado, a fertilidade e a cura estão dentro de cada um de
nós, como também nas águas da chuva, no sol que aquece, na lua que acalenta as
madrugadas, no puma que protege e até mesmo na serpente que assusta, mas é com o condor que observa plácido a paisagem e aprende com a beleza de tudo que vê (tudo é
belo), como a montanha, que chegamos a
Pachamama.
Pela cura, pela totalidade, pelo sagrado.
https://compartiendoluzconsol.wordpress.com/author/solitalo/








Ricas informações! Encantadora forma de olhar e relatar a inportância de Pachamama e Pachacamac para o latinos! Grata por compartilhar conosco suas experiências! 🌸🌸🌸
ResponderExcluirObrigada pelo carinho e pelo incentivo! Encantada pelo apoio e pela amorosidade!
ResponderExcluirMuito bom, Marcela!!! Adorei a abordagem
ResponderExcluir!